domingo, 17 de janeiro de 2010

Haiti e o BBB10 no dia a dia

Neste fabuloso domingão de férias com a vida inteira de coisas interessantes para se fazer, mas como milhões de brasileiros, sem saco nenhum para fazer nenhuma destas coisas importantes para o corpo e intelecto, resolvi assistir a programação da fabulosa e necessária Rede Globo de Televisão.

E depois de assistir um Fantástico dedicado ao Haiti e seu desastroso terremoto, assunto este que assumiu a liderança de qualquer rede de televisão. Não tenho nada contra explorar o assunto como se não houvesse nenhum outro assunto importante no Mundo inteiro, ou mesmo na casa do vizinho. Afinal de contas foi um desastre que abalou um país inteiro, sem falar dos cidadãos de todo o mundo que lá visitavam ou trabalhavam, e ainda levou para sempre nossa mui querida Zilda Arms.

Entre uma notícia e outra do Haiti, salvamento e mortes, vem uma reportagem sobre os lixos que cada cidadão brasileiro joga no meio das vias urbanas das cidades sem pudor algum... Sinceramente, a falta de vergonha do brasileiro já tão desenvolvido pela mídia nacional e internacional e pela política do país associado ao individualismo extremo que leva a cada um acreditar que é o rei/rainha das ruas sem levar em conta ninguém mais explicaria esse comportamento cultural brasileiro, entre tantos outros tipos de comportamento. Em miúdos, PURA FALTA DE VERGONHA E CONSIDERAÇÃO AO PRÓXIMO, mas sem levar isso à generalização, pois pouquíssimas pessoas no país não agem assim...

Além de outra reportagem destaque do programa, vergonhoso também, as garotas que entre um suco de laranja vendido e outro levavam os caminhoneiros da região noroeste paulista para uma barraquinha especial de lona onde vendiam outras coisas de igual importância... Seus lindos corpinhos devidamente expostos.

Em suma, um programa especialmente produzido para nos levar a uma certa tristeza e pesar pelas mazelas do mundo, fazer-nos sentir vergonha pelas ações fúteis de “alguns” brasileiros diante de toda a problemática de um país inteiro arrasado por um fenômeno natural, sofrendo com vitimas soterradas, mortos por todo canto, pessoas desabrigadas passando fome e sede e, ainda por cima, servindo de figurantes gratuitamente para toda a mídia do mundo.

Depressão é a ordem do Fantástico no dia de hoje. Lastime pelo mundo. Chore pela grande Zilda, matriarca da Pastoral da Criança. Fique de Luto.

Mas logo depois de tudo isso, ainda com os olhos mareados de lágrimas, ainda sob a ordem de luto, vem o programa a seguir: BBB10, e de cara FESTA. Alegria, Risos, gente bonita (entre histeria coletiva e comas alcoólicos), a Globo nos dá novas ordens comportamentais completamente diferentes em menos de 30 segundos.

A influência da mídia na cultura e no comportamento é algo que nem é preciso discutir, já se foi observado, relatado, cientificado já faz algum tempo, e eu mesmo sempre reflito muito sobre isso. Aí, lanço-me uma nova pergunta, como pode uma sociedade conviver saudavelmente com tal discrepância áudio-visual na sua vida?

Como podemos desenvolver a exigência de um real sentimento de pesar, de auteridade, ou mesmo de luto se no momento seguinte nos é cobrado alegria constante, disposição para festejar até o amanhecer e beber litros e litros de qualquer coisa que tenha graduação alcoólica acima de 10% e ainda por cima ser uma miss e um mister universo na beleza e na saúde. E o pior de tudo isso, é pensar que as pessoas tentam conviver com toda esta carga de exigências sem ao menos percebê-las quanto mais refletir tudo isso.

Como podemos criar uma nacionalidade, um sentimento de pertença a uma nação se a regra é se isolar para ver pessoas isoladas do mundo pensando apenas no seu mundinho particular, contra tudo e todos ao seu redor, desenvolvendo uma paranóia coletiva.

A mídia é cruel, mas não sem noção ou reflexão sobre sua função social, sua importância na vida das pessoas, no seio de seu lar como em sociedade. Ela sabe muito bem o que faz, mas e NÓS... será que sabemos lidar com isso? Creio que não.

Ainda vou refletir tudo isso melhor... quem sabe sai a continuação deste texto outro dia...

sábado, 9 de janeiro de 2010

Comportamentos não tem origem biológica mas sim na interação social, segundo estudo.

Neandertais criaram joias sem ajuda de humanos
RICARDO BONALUME NETO da Folha de S.Paulo

Joias e cosméticos podem parecer fúteis para algumas pessoas, mas uma descoberta anunciada ontem --a de que neandertais já eram capazes de produzir esses adereços 50 mil anos atrás-- significa que hominídeos pré-históricos já tinham pensamento simbólico.

Achados na Espanha, os artefatos indicam, que mesmo não sendo ainda "anatomicamente moderno", o tão desprezado neandertal já era, inequivocamente, dotado de "modernidade comportamental", segundo os autores do estudo, liderado pelo arqueólogo português João Zilhão, da Universidade de Bristol, Reino Unido.

As "joias" eram basicamente conchas marinhas furadas para uso em colares. Algumas delas tinham também pigmentos coloridos, principalmente amarelo e vermelho, que poderiam ser usados como cosméticos.

Não são os primeiros adereços que são vinculados a neandertais; mas as descobertas anteriores eram controversas por vários motivos. Há quem argumenta que a vinculação em determinados sítios seria resultado de mistura de material de camadas diferentes do solo.

O argumento mais ofensivo aos neandertais era que eles teriam "copiado" as joias dos seres humanos anatomicamente modernos que saíram da África, durante um período de convivência que se deu na Europa de 40 mil a 30 mil anos atrás.

Mas os novos achados, artefatos de até 50 mil anos, derrubam essa hipótese. O estudo, assinado por Zilhão e outros 17 cientistas, está publicado na revista científica "PNAS".

Os dois sítios arqueológicos onde foi feita a descoberta ficam em Cueva de los Aviones e Cueva Antón, na Murcia. Em Aviones, uma caverna que na época da ocupação humana distava até 1,7 km do mar, foram achadas conchas de moluscos perfuradas ao lado de restos de corantes amarelo e vermelho.

Já em Antón, um abrigo de pedra a 60 km da costa, foi achada uma concha perfurada pintada em seu lado externo de branco com cor de laranja.

Zilhão conclui que as descobertas são evidência contra a ideia de que os genes dos hominídeos determinavam seu comportamento: o que importava eram as interações sociais.


Reportagem da Folha on line, caderno Ciência e Saúde, de 09/01/2010 às 11h26. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u676882.shtml